Ministros
discutem após pedido de vista em julgamento sobre incidência de contribuição
previdenciária sobre adicional noturno, de insalubridade e terço de férias
Quase
três meses depois da conclusão do processo de impeachment de Dilma Rousseff, os
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski
bateram boca durante a sessão plenária da tarde desta quarta-feira, 16.
A
troca de farpas entre os dois ocorreu durante um julgamento sobre a incidência
de contribuição previdenciária sobre adicional noturno, de insalubridade e
terço de férias. Diante de um caso com grandes implicações para as finanças
públicas, o ministro Gilmar Mendes decidiu pedir vista, mesmo depois de ter
declarado voto favorável à incidência da contribuição previdenciária nesses
casos.
O
pedido de vista de Gilmar Mendes foi questionado pelo ministro Lewandowski, que
considerou a postura do colega “inusitada”.
“Perdão,
pela ordem, o ministro Gilmar Mendes já não havia votado? Tenho a impressão de
que acompanhou a divergência. Sua Excelência está abrindo mão do voto já
proferido?”, indagou Lewandowski, que votou contra a contribuição
previdenciária nesses casos. “Data
Vênia, um pouco inusitado isso (pedir vista mesmo depois de ter votado)”,
acrescentou Lewandowski.
Gilmar
rebateu, logo em seguida: “Enquanto eu estiver aqui, posso fazer. Vossa
Excelência fez coisa mais heterodoxa. Basta ver o que Vossa Excelência fez no
Senado.”
A
votação fatiada do impeachment de Dilma já foi duramente criticada por Gilmar,
que considerou o formato da votação algo, "no mínimo, bizarro”, que “não
passa na prova dos 9 do jardim de infância do direito constitucional”. O Senado
cassou o mandato de Dilma, mas manteve o direito da petista de exercer funções
públicas.
Diante
da crítica de Gilmar à forma como conduziu o processo final de impeachment de
Dilma, Lewandowski rebateu: “No Senado? Basta ver o que Vossa Excelência faz
diariamente nos jornais, é uma atitude absolutamente, a meu ver, incompatível”.
Lewandowski
também disse que “graças a Deus”, não segue o exemplo de Gilmar Mendes em
matéria de heterodoxia. “E faço disso ponto de honra!”, ressaltou Lewandowski.
Gilmar
Mendes retrucou o ministro, observando que fala os jornais para “reparar os absurdos” cometidos por Lewandowski.
“Absurdos,
não! Vossa Excelência retire o que disse. Vossa Excelência está faltando com o
decoro, não é de hoje! Eu repilo, repilo, qualquer... Vossa Excelência, por
favor, me esqueça!”, pediu Lewandowski.
Depois
de Gilmar Mendes avisar que não retirava o que havia dito, Lewandowski falou:
“Vossa Excelência está faltando com o decoro que essa Corte merece”.
Julgamento
Enquanto os ministros batiam boca, Cármen proferiu o resultado parcial do
julgamento – seis ministros do STF já acompanharam o voto do relator, ministro
Luís Roberto Barroso, no sentido de que não incide contribuição previdenciária
sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor
público.
A
favor da contribuição previdenciária se manifestaram os ministros Teori
Zavascki, Dias Toffoli e Marco Aurélio. Gilmar Mendes acompanhou a divergência,
mas pediu vista depois.
Ao final da sessão, Lewandowski minimizou o episódio. “Não houve discussão, foi só uma troca de ideias”, disse o ministro ao Broadcast. Segundo Lewandowski, a discussão não vai interferir na dinâmica do STF
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