Em
uma tarde em que prestou depoimento, o ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa afirmava não estar com a memória boa. Ao relatar suposta
negociação para repassar R$ 2 milhões para a campanha de Roseana Sarney
(PMDB) em 2010, declarou nunca ter conversado sobre o assunto com a
ex-governadora do Maranhão. Questionado novamente, respondeu que não se
lembrava. Por fim, reconheceu que houve um breve diálogo, e ficou em
silêncio enquanto representantes do Ministério Público Federal digitavam
detalhes do suposto encontro.
A defesa de Roseana afirma que a
cliente só foi citada porque integrantes da força-tarefa completaram
frases do delator e induziram as respostas dele. Conforme petição
encaminhada na última sexta-feira (24) ao ministro Teori Zavascki, do
Supremo Tribunal Federal, “os dignos representantes do
Ministério Público (…) buscam conduzir a oitiva com sugestões de
respostas (…), além de questionar repetidamente sobre determinados
pontos até que o depoente faça afirmações que melhor atendam ao
interesse da versão acusatória”.
O documento é
assinado pelo criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,
Marcelo Turbay e outros três advogados do escritório. Para eles, o termo
desse depoimento (espécie de ata com resumo das falas) deixa de
descrever fielmente as afirmações de Costa e não retrata “suas manifestações de insegurança e/ou falta de convicção sobre determinados pontos fundamentais”.
O
ex-diretor da Petrobras só afirmou ter conversado com Roseana sobre
recursos para campanha depois que os participantes do depoimento — dois
procuradores da República e um promotor — apontaram que ele havia dado
essa versão em uma ocasião anterior.
“Não me lembro de
ter discutido isso com ela lá [em um almoço]”, disse Costa. “A minha
memória tava muito mais boa aqui [depoimento mais antigo], do que hoje
aqui.” (sic)
“De qualquer forma o senhor ratifica isso aqui?”,
questionou um dos membros da força-tarefa, em referência ao termo
anterior. “Sim”, respondeu Costa. “Então pronto, a gente pode fechar”,
afirmou o procurador responsável pela oitiva, que passa a digitar e
repetir em voz alta as informações daquele documento: “Ocasião em que foram feitos breves comentários sobre os pagamentos de propina para o abastecimento de sua campanha”. Minutos depois, o delator diz que se lembrou de alguns pontos da conversa.Para
Kakay, a falta de clareza sobre a forma como as informações foram
colhidas interfere nos elementos usados para fundamentar a instauração
de inquérito contra a ex-governadora. “A análise aqui
realizada comprova cabalmente que, sem qualquer sombra de dúvidas, a
verdadeira narrativa de Paulo Roberto Costa – não aquela reproduzida no
Termo de Declarações 20, mas a efetivamente realizada por ele – desmonta
completamente o pilar acusatório (…), sem o qual o pedido de
instauração de inquérito não se sustenta, em razão da ausência do
requisito indício suficiente de autoria/participação.
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